Estivemos a viver a época de ouro dos videojogos (e agora acabou-se)?

Estava mortinho para partilhar este artigo convosco...

Será que tomámos os videojogos de alta qualidade como garantidos?

Do ZX Spectrum, passando pelo Amiga e até à PlayStation 2 a oferta e a qualidade têm sido tão abundantes, que penso que todos simplesmente assumimos que seria sempre assim.

É verdade que quando os produtos de entretenimento atingem uma determinada exposição mainstream tendem a ficar demasiado… chatos. Foi assim na Pintura, na Música, no Cinema e em tantas outras áreas. A maior parte das melhores ideias nasce na “garagem” (ás vezes sem aspas) da vontade descomprometida de soltar a criatividade. Essa honestidade criativa conquista pessoas. E quando a quantidade de público conquistado atinge a massa critica pretendida, a máquina comercial entra em acção.

São delineadas linhas de montagem, datas de lançamento e uma industria é criada. Depois surge o velho problema: por definição, um trabalho criativo  é exactamente o oposto de um trabalho técnico. Eu consigo trabalhar numa linha de montagem todos os dias, independentemente do meu estado psicológico. O mesmo não pode ser dito se eu quiser, por exemplo,  ter e desenvolver uma boa ideia (enquanto músico sei do que falo). Simplesmente não funciona assim.

Mas voltando ao inicio.

Diz a sabedoria popular, que “tudo o que é bom acaba”. Será verdade?

Hoje, já não sinto que exista à minha volta o mesmo entusiasmo de outrora por videojogos nvoos. Passando os olhos por alguns fóruns de videojogos, conclui-se que, mesmo os mais novos, ou estão a falar dos jogos “de antigamente”, de World of Warcraft (que também é “de antigamente”) ou de não mais de meia dúzia de jogos actuais. Sim, porque não estou a dizer que não existem bons jogos actualmente. Estou a dizer que não existe a torrente de jogos bons de outrora. E isso influencia a “atmosfera” geral do universo de fãs de videojogos.

Quando me iniciei como jornalista de videojogos, na revista Mega Score, tínhamos de jogar todos os principais lançamentos do ano para podermos votar nos Jogos Do Ano. Era uma tarefa hercúlea dada a quantidade de títulos importantes que eram editados num único ano. Estou a falar de uma verdadeira overdose de jogos, e mesmo depois de separarmos o trigo do joio, ficávamos com uma dose bem servida de jogos incontornáveis.

No meu último ano a trabalhar como jornalista de videojogos (2009\2010)  não tive problemas em manter-me a par dos melhores jogos. Quase que os conseguia jogar a todos ao mesmo tempo a que eram lançados – algo impensável há 3/4 anos.

O que está provocar esta falta de jogos de qualidade? talvez seja um ciclo, como referi. Talvez porque a Sony, Nintendo e Microsoft estão demasiado ocupadas a copiar-se umas às outras no que toca a reinventar formas de jogar: com controladores, sem controladores, com varinhas, sem varinhas, com sorrisos, comandos de voz, em 3D, sem sal, com açúcar amarelo…

E onde estão os GRANDES jogos no meio de tudo isto? Onde estão aquelas obras que nos marcam e nos fazem pensar nelas quando estamos na escola, no trabalho, a tomar banho a conduzir ou prestes a adormecer?

Também pode ser por existir menos investimento, mas quem disse que é preciso ter um orçamento milionário para executar uma boa ideia?

Por isso, deixo as seguintes perguntas (na esperança de estar redondamente enganado):

Será que estivemos a viver a época de Ouro dos videojogos e nem nos apercebemos?

Estará a industria de videojogos a  atravessar uma fase de esterilidade criativa?

Poderão novas gerações de criativos e técnicos  trazer de volta uma industria onde somos inundados anualmente por jogos “incontornáveis”?

(Mais sobre este assunto AQUI).

30 opiniões sobre “Estivemos a viver a época de ouro dos videojogos (e agora acabou-se)?

  1. Eu prefiro não pensar muito no assunto, o que me interessa a nível pessoal é que vão saindo jogos de “qualidade” com regularidade suficientes para me entreterem, mas também não considero um jogo novo apenas se tiver saído num espaço de duas… semana e o facto de me durarem muito tempo por não ter a disponibilidade que tinha antes ajuda ao caso.

    A verdade é que olhar para trás e dizer que antes é que era bom pode ser enganoso, não só porque a nostalgia é lixada mas porque é fácil de perder a noção da regularidade com que saíam jogos. No entanto não nego que existiu uma altura em que havia uma torrente de lançamentos de jogos óptimos que hoje não temos. Muito menos vou dizer que não há uma “crise” criativa e conceptual nos grandes nomes da indústria.

    Também olho para as coisas doutra perspectiva, dá-se demasiada atenção não só às grandes produções, mas também aos jogos supostamente brilhantes ou muito bem recebidos pela crítica ignorando jogos que talvez sejam menos polidos, mas que são capazes de entreter imenso um jogador. Nos últimos tempos tenho sentido que não são raras as vezes que retiro bem mais destes jogos do que de grande parte dos “big hitters” e não me refiro exclusivamente a jogos indie.
    Se tiver que dar o título de Jogo do Ano ou dar uma nota, talvez isto não seja tão preto e branco, mas a nível pessoal é o que noto.

    E para quem não pensa no assunto, já escrevi aqui uma pequena parede. Damnit.

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  2. Os videojogos não estão nos seus melhores dias. Mas também julgo que neste momento pouco está no seu melhor: música, cinema, arte em geral. Abandonou-se a procura de identidade para se ser melhor tecnicamente. Claro que ainda há jogos que valem a pena, mas são casos demasiado pontuais.

    Este ano está a ser especialmente vergonhoso. Muito pouco interessa se o jogo graficamente é estupendo, se o resto for banal e datado.

    E acho que é isto que se passa: querem os melhores para os gráficos, para o som, etc, mas esquecem-se de ir buscar e procurar os melhores em ideias. Se calhar há demasiados velhos que devem dar lugar aos novos. Uma boa ideia vem muito ocasionalmente e quem não as tem com maior frequência deve saber afastar-se.

    Os melhores anos dos videojogos já lá vão, sem dúvida. Acho que os bons títulos vão continuar a ser pontuais. Toda a gente quer fazer a sua cena e isso resulta em demasiados títulos, feitos em demasiado pouco tempo e que não cheiram a novo.

    Não consigo fazer futurologia, mas o meu prognostico é que nada vai trazer de volta aqueles momentos em que havia demasiados títulos AAA a rodear-nos.

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  3. Na geração actual, houve uma mudança profunda na forma de fazer jogos, devido às novas tecnologias. É certo que as consolas HD trouxeram consigo muito maiores custos de desenvolvimento e, como resultado, passamos a ter jogos visualmente impressionantes, mas muito mais caros e com muito menor longevidade (quando é que passou a ser aceitável que um jogo durasse menos de 10h?). Também é certo que a Wii trouxe uma nova “moda” ao mundo dos jogos, seja pelos que são focados em actividades físicas, seja pelos mais tradicionais com motion controls adicionados. Infelizmente a vaga de “shovelware” inicial parece ter arruinado as hipóteses das 3rd-parties trazerem bons jogos para a consola e serem bem sucedidas.

    Estas 3 consolas exigiram um grande esforço de adaptação aos developers e, como resultado, mudaram os próprios videojogos. Agora que a Sony e Microsoft se preparam para adaptar as consolas aos motion controls (e, alegadamente, a Nintendo se prepara para dar o salto HD), é possível que surja uma nova onda de confiança.

    Se o passar do tempo (e, especialmente, da crise econónima) vai permitir um melhor desempenho dos developers, com orçamentos mais desafogados? Espero que sim. Mas não acho que é só isso que está em causa. Como dizes, as empresas parecem demasiado preocupadas em copiar-se umas às outras. Faz sentido, 4 anos depois do Wii Sports, lançar-se um Kinect Sports ou um Sports Champion como flagship de um novo produto? Ou até quando irá resultar a fórmula “2 Guitar Heroes + 1 Call of Duty por ano”?

    Dito isto, com apenas duas consolas (uma portátil e uma “tradicional”), posso dizer que nunca comprei tantos jogos (e muito bons jogos!) como nos últimos 5 anos. Muitos deles não foram blockbusters e muitos também não têm mais de 90% no Metacritic ou Gamerankings, mas foram jogos muito gratificantes de jogar.

    Depois há o aparente consenso de que os jogos para portáteis não são para levar a sério. É suposto acreditar que na PSP só existem 3 jogos merecedores de 90% para cima, ou apenas 6 no caso da DS? Já na PS3 encontramos mais de 20 jogos com esses valores. Que o jogo melhor com a melhor cotação da DS (GTA) tenha sido um flop, parece-me um bom indicador do desfasamento entre as expectativas dos reviewers e as experiências dos jogadores.

    Falando agora apenas da DS, tendo em conta ser este o seu suposto ano de “despedida”, acho impressionante ver-se o lançamento de um novo Final Fantasy e um Golden Sun no mesmo ano em que saiu o Dragon Quest IX. Para não falar no novo Layton e o Ghost Trick e limitando-me apenas aos jogos AAA que estão a caminho para a consola. Acho que a época de ouro não se acabou… 🙂

    E desculpa lá o testamento, espero que tenha feito algum sentido ^^’

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  4. Abriu-se aqui um concurso de testamentos hihi

    Por acaso, considero que a Nintendo DS não tem ficado nada mal servida. Não tem milhares de títulos bons, mas os que são bons, são mesmo muito bons. Consegue reunir clássicos de forma exemplar (e sabem sempre tão bem e duram sempre tanto tempo), como lançar franchises mais recentes mais absolutamente deliciosas, como é o caso do Professor Layton.

    Mas também acho que isto tudo é muito subjectivo, depende muito do tipo de jogadores que somos e, consequentemente, das nossas exigencias.

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  5. Sem querer discordar da premissa do artigo (com a qual eu consigo empatizar), deixo apenas aqui o ponto de vista de um casual gamer com pouco tempo para jogar e acompanhar tudo o que aparece, e que apenas escolhe os jogos que de alguma forma se destacam.

    Embora concorde que não tenho visto grandes inovações em termos de conceitos na vaga recente de jogos, a qualidade de vários títulos AAA tem sido extraordinária. A título de exemplo:

    Uncharted 2:
    Ok, já saiu à quase 1 ano, mas só joguei recentemente 😛
    Este jogo para mim é um excelente exemplo, porque embora em termos de mecânica de jogo não apresente nada de excepcional, a integração das várias componentes da experiência (historia, voice acting, graficos, e neste caso em especial, a edição da camera tanto nos FMV’s como ingame) resulta num jogo memorável e que considero ser dos melhores que joguei nos ultimos anos. Trouxe algo de novo ao género? Talvez os production values 😛

    Assassins Creed 2:
    Retiraram o que eu detestei do 1, acrescentaram uns pózinhos novos, deram uns toques nos gráficos, et voila. Resultado? O que o 1 devia ter sido. A mecânica de jogo do AC1 é espetacular e inovadora, e merecia um jogo mais bem pensado em termos de objectivos (o primeiro era uma seca …)

    Starcraft 2:
    Mais uma vez, não apresenta nada de novo (pelo menos do meu ponto de vista). No entanto é um exemplo de um jogo que foi afinado até à exaustão (nota: eu só joguei o single player). Tenho de admitir que a única coisa que me fez acabar o jogo foi a história, a mecânica para mim não assenta muito bem, mas os fãs adoraram.

    Mass Effect 2:
    É mais do mesmo, e para mim isso é bom porque eu gostei do 1. Foi um filme sci-fi interactivo, e para quem gosta do género estava excelente.

    Acho que não joguei mais nada recentemente …

    Portanto do meu ponto de vista o panorâma não tem sido assim tão negro, mas concordo que gostava de ver qualquer coisa inovadora e que realmente tivesse aquela aura de jogo incontornável. (Half Life 3? Estás aí?)

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  6. Por acaso acho que a DS está fantabulosamente servida, tem tantos jogos bons que nem sei como é que vou ter tempo para os jogar a todos, mas lá está, é subjectivo.

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  7. Caros amigos, que grandes e interessantes testamentos.

    Como digo no artigo, não digo que não tenham continuado a surgir grandes jogos. Claro que têm e eu tenho-os jogado (Dragon Age, Mass Effect 2 e GTA 4 + expansões à cabeça da lista), o que eu sinto é que existem em menor quantidade.

    Proponho-vos o seguinte exercício: vejam quantos jogos saíram para a PlayStation 2 e quantos eram bons. E depois façam o mesmo para as principais consolas da Sega e da Nintendo (anteriores à Game Cube).

    A DS tem grandes jogos e um catalogo impressionante para a 3DS, mas uma consola portátil será sempre uma consola portátil e os seus jogos serão sempre (na maioria, há excepções claro) mais pensados para uma experiência mais leve, on the go, do que um jogo “de mesa”, por definição mais denso e arrebatador.

    Talvez seja injusto é estar a meter tudo no mesmo saco. Mas mesmo deixando as portáteis de lado, não vejo uma quantidade enorme de GRANDES e MEMORÁVEIS jogos nos últimos anos.

    Quanto à inovação, não me preocupa, já que a considero como mais uma ferramenta para a obra final. Se me conseguirem dar um grande jogo sem inovar, eu nem vou pensar nisso.

    Penso que há falta mesmo é de ideias e de vontade de arriscar, como na altura em que não havia nada a perder e as produtoras estavam todas ainda a tentar criar uma industria. Agora que já a têm parece que estão um bocadinho complacentes. E não foi com complacência que os videojogos conseguiram roer o calcanhar de industrias mega-competitivas como a Música e o Cinema…

    De qualquer forma é um previlégio ter conseguido juntar mentes tão brilhantes coomo a vossas na minha tasca 🙂

    Continuemos… 😉

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  8. Não tinha lido o artigo da Joana, e já reparei que o meu argumento está um pouco redundante.

    De facto parece, pelo menos para um observador pouco informado como eu, que a industria está a apostar pelo seguro. O que tu querias era mais purple cows nos videojogos 😛

    Não sei se a razão é a crise, a complacência, ou gestão fria e calculista que, com o crescer da industria, criou condições para que se formassem “maquinas” optimizadas para gerar dinheiro com o minimo risco.

    Agora que penso nisso, pode também tratar-se de um problema de saturação de conteudo. Será que tal como nos simpsons, já foi tudo feito? (pelo menos o mais obvio …)

    http://en.wikipedia.org/wiki/Simpsons_Already_Did_It

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  9. todos os anos ha dezenas ou centenas de comentarios e artigos em foruns e blogs a lamentarem-se que acabou a epoca de ouro dos videojogos. e da musica. e dos livros. e dos jornais. e do cinema (bom, aqui com alguma razao, tendo em conta o racio de remakes e adaptacoes de series de televisao).
    acho que por tras de tudo isso esta simplesmente uma questao de tedio. ha tanta oferta e tanto bombardeamento de formas de gastar o tempo que as pessoas vao cada vez mais agarrando-se ahs referencias seguras do passado porque nao se conseguem concentrar em muita coisa (e depois temos de levar com revivals dos anos 80 e de tudo e mais alguma coisa e ate ter radios cujo posicionamento eh simplesmente deixar os ouvintes encalhados no passado). o deficit de atencao sem hiperactividade vai em breve deixar de ser inscrito como uma patologia para passar a ser uma condicao do homem ocidental…

    goncalo, estas simplesmente a entrar na meia idade e vais cada vez mais dizer que no teu tempo eh que era bom ahahahh

    (treta de comentarios que nao permitem acentuacao)

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  10. “acho que por tras de tudo isso esta simplesmente uma questao de tedio. ha tanta oferta e tanto bombardeamento de formas de gastar o tempo que as pessoas vao cada vez mais agarrando-se ahs referencias seguras do passado porque nao se conseguem concentrar em muita coisa …”

    Eu espero sinceramente que esta não seja a razão, mas realmente consigo ver como a teoria encaixa perfeitamente com a realidade actual. Custa-me um pouco pensar que as pessoas se acomodam ao confortável e não procuram experiências novas.

    Entretanto, estava aqui a correr na minha mente mais uma vez a lista de jogos memoráveis que realmente me conseguiram fascinar ultimamente, e reparei que cometi uma omissão gravíssima na minha lista.

    O Heavy Rain para a PS3, a meu ver, foi o melhor exemplo de inovação em termos de storytelling e imersão do jogador a um nível emocional. Posso até arriscar dizer que é a obra que melhor representa o argumento de que os videojogos podem ser arte. (para mim sempre o foram, mas há quem discorde).

    Portanto, não consigo responder à ultima pergunta (se vamos voltar a ter uma torrente de jogos incontornáveis), mas creio que posso responder a esta:

    “Estará a industria de videojogos a atravessar uma fase de esterilidade criativa?”

    Acho que não. Está boa, obrigado 😛

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  11. Acreditem que antes de escrever este artigo, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi exactamente «Ah, devo é estar a ficar velho», e concluí que, sim, estou a ficar velho e cansado, mas que tenho conhecimento de causa para escrever o que escrevi porque continuo a acompanhar os lançamentos e a jogar.

    Além disso, uma boa ideia é intemporal, podem dar-me uma boa ideia em qualquer altura da minha idade que eu vou continuar a agradecer e irei desfrutá-la.

    Não sou daqueles que diz que antigamente é que se fazia boa música. Quem acompanha e gosta realmente de música, sabe que existem dezenas de boas bandas por aí, tantas ou mais do que antes. Se consigo ver isto a acontecer na música e não o consigo ver nos videojogos, é porque alguma coisa está mal com a saúde dos videojogos. Ou então eu deveria ser abatido com um tiro de caçadeira. Depende.

    Nelson: «o deficit de atencao sem hiperactividade vai em breve deixar de ser inscrito como uma patologia para passar a ser uma condicao do homem ocidental…»

    Excelente forma de colocar a questão e concordo. Mas o meu problema não é o excesso (neste caso, de GRANDES videojogos lançados, daqueles que passam a clássicos) é o inverso: a insuficiência. 🙂

    Max: Videojogos são arte? Videojogos deviam imitar o cinema? Doi temas muito controversos e muito muito debatidos, acho melhor nem irmos por aí hahahah

    Se quiseres faço um artigo sobre isso para discutirmos, mas aviso que vai ser inglório hahahah

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  12. “Videojogos são arte? Videojogos deviam imitar o cinema? Doi temas muito controversos e muito muito debatidos, acho melhor nem irmos por aí hahahah”

    Pois, eu sei. Já foram publicadas várias iterações deste tema ao longo do tempo. Um google search por “video games as art” apresenta inúmeros artigos sobre o tema, cobrindo todo o espectro de opiniões. Eu tenho uma definição relativamente abrangente do que considero arte, por isso para mim o tema nunca foi sequer um ponto de discussão.

    “Se quiseres faço um artigo sobre isso para discutirmos, mas aviso que vai ser inglório hahahah”

    Se escreveres, eu leio 😛 Mas acho que gostaria mais de ler qualquer coisa sobre se “Videojogos deviam imitar o cinema?”. É um tema menos batido (pelo menos para mim é novo, nem nunca tinha pensado nisso antes …)

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  13. Eu não concordo que estamos no fim de uma era, eu acho sinceramente que estamos no princípio. Todas as plataformas que o Gonçalo referiu desde o Spectrum até á Playstation 2 pertencem á primi e pré-história dos videojogos, a seguir a coisa melhorou bastante. Quem diz que nesse tempo os jogos eram melhores e mais diversificados foi porque viveu obcecado com eles e acima de tudo teve oportunidade de os jogar, quem nunca os conheceu nunca sentirá a falta nem serão termo de comparação!

    Eu nunca tive tão bons jogos como agora, é a época ideal para se ser gamer pela simples razão que podes jogar as tais antiquidades referidas se para aí tiveres virado mas senão tens EXCELENTE hardware á disposição, em todos os campos, e excelentes jogos com que entreter…basta apenas espremer bem os lançamentos dos últimos 10 anos!

    A sério que nunca tive tão bem como agora, vários PC’s que correm todas as maravilhas do passado, Xbox360 + PS3, DS XL (que na Wii não mexo) internet banda~larga de 100 megas para esqueçer os traumas dos antigos modems 34 e 56K…porra pá, que mais poderia um gamer querer?

    JP Alves de Sousa

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  14. @Max: É um tema muito discutido, mas ainda tem suminho, a ver se trato disso.

    @JP: Não ter experimentado algo do passado não faz o passado não existente. Que no passado existia muito mais variedade e liberdade criativa nos videojogos não é uma questão de opinião, é um facto. Isso é como dizer que o Holocausto nunca aconteceu porque não estive lá.

    No entanto, é interessante ver uma opinião diferente de uma pessoa de uma faixa etária diferente 🙂

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  15. Não considero um regresso às origens uma evolução. Pelo contrário. Se assim fosse o mundo nunca tinha evoluído em nada, andava sempre tudo a reciclar ideias. Ainda andávamos todos a usar a versão 24439594 do pau que os primitivos usavam para bater a pele.

    De qualquer forma o meu artigo não é sobre inovação, mas quantidade de jogos bons por lançamento. Os indies do PC, LiveArcade, PS3 net e Nintendo Ware têm feito um excelente trabalho, sem dúvida, na smash! fiz uma reportagem onde comparei a onda de maluqueira vivda actualmente na concepção de jogos para Wii e DS Ware ao movimento de Madchester – valorizo muito esses trabalhos. 🙂

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  16. João Pedro Sousa: «mas eu considero o regresso ás origens como factor evolutivo, deste o exemplo da música: quantas vezes não se regressa atrás (blues, rocl’nroll, rockabilly, etc!) para fazer novas coisas e criar estilos novos?»

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  17. Não necessariamente. Como sabes, no processo criativo, há uma grande diferença entre usar as influências dos nosso ídolos para criar algo nosso e copiar o que os nossos ídolos fizeram simplesmente porque não temos talento para mais. Um caso +e reformulação, o outro é regressar às origens (também conhecido como imitação, ou tributo hehe)

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  18. wall of text.

    Percebo a situação e concordo até um certo ponto, que é para não dizer que para mim o fim da era dourada já acabou à uns anos. No entanto acho que te esqueceste um pouco da «originalidade dos jogos».

    Acho que concordo que existe uma certa originalidade nos jogos (que cada vez mais, comparando com a actualidade, parecem produto da limitação do meio; não muito diferente de como alguns conceitos de ficção cientifica no cinema vieram a ser criados, apesar de absurdos) mas apenas em particular até aos 8-16bit. A partir daí a coisa estagnou imenso, basta ver que uma boa parte dos jogos eram todos clones. Nem entrando pelos beat’em ups, temos milhentos clones. Clones de clones. E falha-me a memória, pois nem recordo os originais, mas acho todos associarão. Clones do Contra, clones do Streets of Rage, clones do Mario, clones do 1942, os rpg’s são todos iguais e não esquecendo de quando alguém se lembrou do Wolfenstein 3D.

    Os jogos já eram numa grande parte todos iguais na altura. Por isso o problema é outro, e acho que é precisamente por serem mais complexos. Algures referem a aproximação dos jogos à arte, e acho que mais do que nunca os game developers têm noção do seu potencial. Os jogos tornaram-se efectivamente um meio ubíquo para transmitir uma experiência, que é por si única. Tal como uma banda desenhada nunca poderá ser substituída por um filme, também os jogos de video tem o seu espaço, espaço esse que é particularmente inigualável dada a interactividade do meio.

    O problema, lá está, é que uma vez adquirido o prime-time na vida quotidiana das populações começa-se a aplicar o principio de todos os outros produtos (revistas, jornais, bd, cinema, musica, etc): à venda. Claro que em todos os anteriores temos maravilhas, mas temos uma larga maioria de lixo produzido com o único objectivo de fazer dinheiro. E aqui é que as coisas não batem bem, porque o que eu digo como sendo lixo, na realidade deve ser bom, pois vende («O Crime», estou a olhar para ti), porém nos jogos a coisa é diferente, pois tirando aos olhos de um fã obcecado, um jogo mau é sempre mau. No entanto os jogos vendem e dão lucro, o que não abona a favor dos jogos de qualidade. Aqui sem dúvidas que as sequelas reinam.

    E tudo tende para isto, principalmente devido aos monopólios que vão acabando com os estúdios que se preocupam em criar jogos (de notar a Activision, cujo o CEO é conhecido como «The Most Hated Man in Video Games») passando a produzir jogos. Um exemplo recente é o da Rockstar San Diego (Red Dead Redemption) cujos empregados foram forçados a trabalhar noite e dia sem horários nem fins de semana (ao ponto de ter havido uma petição contra a empresa) para produzir o jogo, que por sua vez teve imensas features cortadas por falta de tempo e interesse na sua produção por parte de quem manda.

    Por um lado é produzido mais lixo, que é vendido pelo hype e por reviews abonatórias de avaliadores provavelmente comprados. Por outro lado, precisamente pelos jogos se terem tornado numa obra mais complexa, também as nossas avaliações se tornam mais exigentes. à uns bons anos atrás ninguém ligava ao voice acting. Se o herói mandasse umas boas ‘one liners’ já não era mau. O que importava era a jogabilidade e os gráficos. Se ambos fossem bons, o plot nem teria de ser uma coisa por aí além. Agora não, TUDO tem de ser bom, caso contrário a nossa atenção rapidamente se perde entre jogos. E a propósito, não acho que a redução de boas releases seja necessáriamente grave; enquanto criança, por cada jogo que adquiria saíam 15 que eu queria, e com o passar dos anos o que se alterou mais foi precisamente o facto de saírem cada vez menos jogos interessantes. A ideia que tenho é que a larga maioria dos cosumidores não compra assim uma quantidade insana de jogos, pelo que a redução de saídas no máximo só limita a escolha.

    Num aparte, vi ontem uma reacção genial ao «Blacklight: Tango Down» — um curioso FPS sem single player de baixo custo — que só por si revela um pouco da mentalidade actual a trespassar para o jogador: (sniper321w) “ignore how much this game costs and its fucking amazing”. Um jogo pelos vistos tem de ser caro para ser bom. Que vida infeliz ele vai ter, é tudo o que sei.
    Já agora deixo aqui o clip, estando em 2º ou 3º o comentário no momento de escrita. Recomendo um skip para os 3:30 para ver os efeitos de anulação do ecrã: http://www.youtube.com/watch?v=-dD0ogul5mc

    Pessoalmente recuso-me a dar mais de 40 euros por um jogo, e mesmo esse valor custa a sair. Sou apologista dos jogos indie. Substancialmente mais baratos e quase sempre tão bons ou melhores. Ainda mais, adicionando que nunca fui fanático por gráficos e sempre dei preferência à jogabilidade e divertimento, fico assim muito bem servido.

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  19. @gonçalo: quando estava a falar de excesso de oferta e de estimulos nao me estava naturalmente a limitar aos videojogos.

    “Que no passado existia muito mais variedade e liberdade criativa nos videojogos não é uma questão de opinião, é um facto”.
    gosto desta tua liberdade criativa na argumentacao. 🙂

    eh muito giro e facil falarmos de jogos indies para parecer alternativo e atento mas depois nestas discussoes esquece-los completamente quando queremos ser catastrofistas e pregar o fim de uma epoca dourada – coisa que, repito, se verifica todos os anos. por esta ordem de raciocinio nunca tinha havido um ano bom em termos de coisa nenhuma, porque todos os anos se afirma que eh “um facto” que antes eh que havia criatividade. como ha sempre alguem que afirma que eh um facto, nao ha hipoteses de acreditar que alguma vez tenha havido um ano que valha a pena recordar.

    pessoalmente nao me lembro de haver tanta discussao saudavel, tanta inovacao tecnologica e tantas boas ideias a aparecerem (sim, a nivel indie – palavra monstruosa – mas tambem no mainstream). E ate por um motivo muito simples: eh facil haver liberdade e novas ideias quando o que esta para tras eh tabula rasa. em 1972 o Pong era uma ideia extremamente criativa e original. Claro, nao havia muito mais para tras. e nao deixava de ser um jogo perfeitamente estupido. mas la que era criativo, original e inovador, isso era. tambem ha-de ser dificil fazer musica rock vital e fresca hoje comparativamente com os 50s, 60s, etc.

    eh muito mais dificil destacares-te pela inovacao agora. e atencao que esta eh uma industria que esta em constante evolucao, num ritmo de mutacao que a literatura, o cinema ou a musica nunca viveram. o nivel de evolucao dos videojogos em comparacao com aqueles media mete-o num patamar em que compara-lo com os outros com eh como comparar a revolucao industrial com as sociedades recolectoras – passe o obvio exagero usado para bem da ilustracao do meu argumento. e, no entanto, consigo ser surpreendido todos os anos.

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  20. 1- Ninguém esta a ser catastrofista nem a pregar. Eu não prego, não sou padre nem ditador, nem comunista. O próprio título do post é uma pergunta, não é uma afirmação e o final do post são perguntas, não são conclusões nem “eu não acho, eu sei!”.

    2- Este post não se inclui em nenhuma das seguintes categorias que me irritam profundamente:

    a) “Antigamente é que os jogos eram bons” – naturalmente qualquer área teve de ter um inicio bom ou nunca teria conquistado ninguém, o que não significa que não se possa tornar muito melhor.

    b) “Antigamente é que se era criativo, e agora já não” – eu quando aponto a criatividade, indico-a como uma hipótese de ser um dos muitos factores para a ausência de um grande quantidade de jogos memoráveis actualmente (que se venham a tornar clássicos). Nunca disse que agora não há jogos criativos. São coisas diferentes.

    3- Tal como já referi noutro comentário, existem centenas de bons jogos indie. Mas quantos se encaixam na categoria de memoráveis/futuros clássicos? Quantos têm fanclubs? Contam-se pelos dedos.

    4- Não concordo com a ideia de que é mais fácil criar quando não existe nada para trás. Se agora é difícil porque já muitas ideias foram exploradas, antes era dificílimo porque não existia qualquer base nem influencias.
    Quem inventou os videojogos não pintou um quadro genial, teve de inventar a tela!

    5- «eh muito mais dificil destacares-te pela inovacao agora.» É-me indiferente se o produto que eu vou consumir inova ou não. Desde que seja muita bom.

    6- A Música evoluiu desde uns tipos a baterem palmas e com paus em carcaças, passando pela invenção de milhares de instrumentos musicais diferentes, recebeu a tecnologia da amplificação e depois os computadores e achas que não se mutou e evoluiu tanto como videojogos? Bizarro.

    7- Concordo com (finalmente) tudo o que não rebati (haha) e com a a firmação de que os videojogos ainda estão na sua infância. Mas atenção, a Música também sofreu mutações profundas (por razões tecnológicas e sociais) nos últimos 40 anos.

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  21. Gostava de ter tempo para ler todo a corrente de comentários que concerteza têm excelentes pensamentos, mas na minha opinião isto pode dever-se a uma faze da vida. Falo por mim, quem me dera ter a paciência para jogos que tinha antes.

    Bom post 😉 Abraço

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  22. É um tema interessante. Aliás vários temas para ser preciso. Em primeiro lugar falou-se aqui de qualidade. Mas exactamente qual são os parâmetros para se avaliar a qualidade de um jogo? As vendas? O número de fãs? As notas dos críticos e dos especialistas? A maioria das opiniões dos fãs? Se acharmos que se trata de uma forma de arte sem dúvida esta primeira questão resolve-se pela opinião dos especialistas, Gonçalo e Calvinho por exemplo – mesmo que eventualmente não concordem sobre a avaliação de cada jogo em especifico. Se antes pelo contrário formos mais pela designação de industria e do entretenimento então provavelmente a qualidade mede-se pelos resultados diria eu já que nesse caso os jogos serão em ultima análise feitos para entreter, não para exprimir, sublimar uma qualquer ideia ou sentimento característica própria da arte. E é aqui que eu penso se centra a questão. reparem que assistimos à transformação de algo que era uma actividade essencialmente criativa e logo intrinsecamente arte numa actividade que é essencialmente entretenimento. O problema – se é que o há – é que nas artes que se transformaram também em industria (Cinema, Música, Videojogos) – tendem a cortar o espaço de expressão dos artistas. Mais ainda quem mais se interessa tem a sensação de estar mergulhado num mar de produções de plástico – mais do mesmo. Pior ainda quando a industria tem uma componente tecnológica forte as expectativas em termos dos meios utilizados é tal que qualquer produção que saia desses canons dificilmente sai do mais profundo anonimato.
    Em resumo acho que se está a passar nos videojogos o que se passa na música ou no cinema. Crescimento de uma industria …

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  23. É bem visto que isto é um sintoma de crescimento… resta saber se, ou quando, será um crescimento com substância, ou uma coisa oca, pensada puramente em rentabilização e segurança (a EA há uns anos sofreu as consequências de se focar apenas em apostas “seguras”).

    Penso que certas editoras já têm dinheiro suficiente para fazer como em Hollywood: financiar sub-labels de produções independentes que estimulam a criatividade e de onde podem sair ocasionais sucessos mainstream.

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  24. Bem!!…
    na minha opinião o “jogo de mesa” já não está lá, porque já não existem jogos que nos transmitam “emoções”, “experiências” novas.
    Pegamos em maioria dos jogos de forma diferente, e tentamo-nos justificar com a falta de tempo, idade, paciência, etc…

    eu julgo que é uma forma errada de ver as coisas.
    ora, nos jogamos um jogo porquê?
    porque teve avaliação de 100%? porque vendeu muito? porque toda a gente joga?
    não. Jogamos, porque gostamos da experiência de jogar.

    e chegamos ao ponto “raíz” que é… mas porque gostamos?
    eu diria que tal como um filme, uma música, uma pessoa, um objecto.
    Gostamos porque nos transmitem emoções, memórias, experiências, vivências: diferentes.
    Daí serem especiais.

    Por exemplo, vamos pegar num clássico como o tomb raider 🙂
    Eu lembro-me de jogar e ficar emocionado de tanto detalhe “ela salta, ela dispara, ela anda de mota”!
    e a forma do jogo estar explorado de forma “crescente”.
    No primeiro nivel tinhamos o básico, no segundo tinhamos uma caçadeira, no terceiro uma mota, no quarto um penteado diferente, no quinto um nível num ambiente completamente diferente, no sexto um pedaço de história histérico, … etc…
    …e o que virá a seguir??? 🙂 lá vamos nós a sair de casa com o jogo na cabeça…

    penso que hoje em dia os jogos vão em busca dessa vivência, de forma agressiva,
    com gráficos, ambiente, sangue, explosões, “aquilo que é espectacular” (como assumir-mos uma personagem cheia de facas, armas, luvas, capacetes altamente engenhosos), situações abusivamente anormais (como 1000 zombies a seguir-nos).
    Ou seja, tentam oferecer tudo e mais ainda.
    Mas sem uma componente crescente nem um conceito inovador.
    Como é que isto pode funcionar? :-/
    Vamos ter mais do mesmo…

    Esse “todo” para uma pessoa que já joga a uns anos, não é mais do que aquilo que já jogou, mas com mais zombies, ou mais gráficos, ou mais sangue, etc.
    booooring

    tal como uma música pop…
    uma pessoa que “segue a música”, ouve uma música pop como algo que já experimentou, já sentiu.
    Algo passado, desinteressante, mesmo que em alguns dos casos seja uma obra, bem desenvolvida e brutalmente produzida.

    eii… textozão… sorry.

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